27 de ago. de 2014

O risco evangélico

Qual a religião de Dilma? E a de Aécio? E a de centenas de outros candidatos que vemos no nosso horário eleitoral gratuito todos os dias? Não sei. E também não quero saber. Por que isto não importa. Não importa qual a religião de um político, só o que importa são suas ações enquanto detentor de um mandato público. Como todos sabemos de longa data, o estado brasileiro é laico, e garante o direito à livre manifestação religiosa. Está na constituição. Isto significa que o governo não deve pautar suas discussões por interesses de grupos religiosos, em desfavor de outros ou em desfavor do interesse da maioria dos cidadãos. 


Se é desta forma, porque então candidatos de um determinado segmento religioso fazem questão de deixar bem claro sua opção religiosa, antes mesmo de serem eleitos? Isto é relevante para o pleito político? Eles pensam que sim. Não se trata de uma mera questão de identificação com determinado segmento. Se fosse isto, candidatos católicos colocariam sua condição religiosa em primeiro plano afim de conquistarem votos dos eleitores católicos, maioria em nosso país. Ou espíritas fariam o mesmo. Mas não é o que acontece. Porque então no caso do evangélicos, estes fazem questão de afirmarem sua religião?

São centenas de pastores, bispos e outras denominações da hierarquia religiosa evangélica que desfilam todos os dias em nossa TV e fazem questão de deixar bem claro sua opção religiosa. A questão vai muito além de conquistar votos de outros evangélicos. A questão é deixar claro que, se eleitos, lutarão pelos interesses daquele determinado segmento religioso. E não tem sido assim até agora? Projetos absurdos, que contrariam a ética e o bom senso são lançados todos os dias pelos candidatos desta religião. Apenas para citarmos um exemplo, o projeto do deputado João Campos, eleito pelo PSDB de Goiás (e que tenta a releição), que pretendia curar homossexuais. Na época o projeto causou alvoroço no país devido a seu teor polêmico, que colocava a homossexualidade como "doença" ou, no mínimo, um desvio de comportamento, capaz, portanto, de ser curado ou, como dizia no projeto, "revertido". Além desse exemplo, vários outros são vistos todos os dias, em relação aos mais diversos temas. Normalmente, a chamada "bancada evangélica", é composta por candidatos que colocam suas ideias religiosas acima do bem comum da sociedade. Ou seja, fazem questão de deixar claro que legislam apenas para defender os interesses daqueles que os elegeram. 


Neste ano, temos um caso peculiar, de uma candidata à presidência, com chances reais de se eleger, que pertence ao segmento evangélico. Ao mesmo tempo que crescem as críticas ao fato dela pertencer a esta religião (pelos já mencionados absurdos cometidos por evangélicos na política), vejo muitos evangélicos e até não evangélicos questionando as críticas que são feitas a ela por sua religião. Alegam que trata-se de preconceito, e, entre outras coisas, que cada um tem direito a ter sua religião (recorrem sempre ao vídeo em que ela afirma que o Estado é laico, e não ateu). Outros questionam a desconfiança e o medo em relação à sua religião influenciar em seu modo de governar, alegando que até o momento ela não deu mostras de que fará isto. Em primeiro lugar, é sintomático que evangélicos se digam perseguidos e vítimas de algozes que, em grande parte, eles mesmos criam todos os dias com atos intolerantes


Por outro lado, não sei se podemos dizer que Marina pertence à "bancada evangélica". Em sua trajetória política até hoje, ela não se pautou por interesses religiosos. Sua bandeira sempre foi a da defesa das questões ambientais, e tudo parece supor que continuará assim. De qualquer forma, o temor pela sua opção religiosa não é infundado, haja vista os apoios que ela deve receber agora que oficializou sua candidatura, de gente do cacife de Silas Malafaia, arauto da ignorância e do retrocesso sociais em nome de seus devaneios religiosos. Talvez Marina não mereça a aversão que vem sofrendo por parte de alguns pela sua opção religiosa. No entanto, não recrimino aqueles que temem por esta opção, já que na maior parte das vezes são pessoas que já sofreram com a perseguição e ódio destilado por este segmento religioso, sendo este temor, portanto, mais do que justificado. Resta aguardamos o resultado destas eleições para sabermos se, mesmo com uma presidente evangélica no poder, poderemos ficar tranquilos quanto ao nosso estado continuar sendo laico. 

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