15 de mai. de 2011

Cidade dos Sonhos

David Lynch é famoso por seus filmes imcompreensíveis, cheios de metáforas e jogos de sonhos e ilusões; filmes onde não dá para saber onde termina a ficção e começa a realidade, onde sonhos e realidade se misturam, sendo difícil distinguir a fronteira entre elas. E não é pra menos que sua obra-prima tenha recebido o título em português de Cidade dos Sonhos, pois é isto mesmo que Lynch costuma construir, uma verdadeira cidade dos sonhos. Após assistirmos a ele, um turbilhão de idéias nos vem a mente, e ficamos nos perguntando se alguma delas fará sentido. Aliás, sentido, isto é o que tanto buscamos, dar um sentido a tudo o que vimos na tela.

Sua história se inicia de forma simples. Após um acidente de carro ocorrido na Mulholland Drive, em Hollywood, a jovem que posteriormente receberá o nome de Rita escapa de ser assassinada, e acaba se escondendo na casa da tia de Betty, uma jovem vinda do interior para tentar se tornar uma atriz. Betty e Rita se conhecem, e assim partem em busca de tentarem desvendar quem é Rita, já que com o acidente ela perde a memória. Paralelamente, o filme mostra a história do diretor Adam Kesher, que vê sua vida desmoronar ao ser obrigado a escolher a atriz principal de seu filme de acordo com a máfia, descobre que estava sendo traido pela mulher e ainda vai à falência.


Ao longo da trama vamos descobrindo coisas estranhas sobre Rita, como o fato dela carregar uma bolsa com bastante dinheiro e uma estranha chave azul consigo, o fato de inúmeros caras estarem perseguindo-a, e também Rita se lembra do nome de Diane, uma possivel amiga, mas ao chegar à sua casa encontram ela morta em sua cama. Tudo isto nos faz parecer um estranho conto policial sobre filmes e sobre a máfia. Mas nos 20 minutos finais da trama, tudo se confunde, e de repente descobrimos que nada é o que parece ser. Fica pra nós a tarefa de desvendar este enigma, montar o quebra-cabeças proposto por Lynch, o que não é tarefa fácil.



Lynch não é o tipo de cara que nos entrega tudo de mãos beijadas. Ele faz com que o telespectador tenha que se atentar para todos os detalhes, mesmo os mais aparentemente insignificante, para entendermos o que realmente está acontecendo. Assistir a alguns filmes do diretor é uma verdadeira aula, é um treinamento de nosso modo de ver as coisas. Estamos tão acostumados com os filmes do padrão hollywoodyano, aqueles que deixam tudo explicadinho, em que não precisamos pensar para entender, mas tudo já vem pronto, que ao nos depararmos com filmes como este, acabamos não conseguindo admirar sua proposta. É preciso ir além do lugar-comum, é preciso nos superarmos, focar nosso olhar para além do que estamos habituados, e só assim desvendarmos o que está por trás das cenas aparentemente sem sentido do filme. Este é o grande mérito de Lynch, e só por isto ele deve ser lembrado: pela sua ousadia. O resto é um mero jogo de espelhos: não passam de ilusões.

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