14 de mar. de 2011

Um Filme Para os Fortes


Onde os Fracos Não Tem Vez não é um filme fácil. Não dá para se esperar que um filme destes agrade a todos, já deveriam saber os intelectuais de plantão. E aqui estou para formar a turma do contra. Sinceramente, tenho que fazer coro: "Acho que não entendi este filme". Pronto. Após desabafar minha fraqueza, permitam-me fazer alguns devaneios e análises soltas sobre o filme em si.

Tudo bem, concordo com os elogios técnicos feitos por toda a crítica. As atuações estão ótimas, a "trilha sonora" é peculiar e realça a morbidez do filme. O que ele passa é uma sensação desoladora, nos convidando a compartilhar deste cenário inóspito que é o deserto do Texas. Seus personagens são únicos. Um caçador veterano, um xerife desiludido e um psicopata frio. A pasta de dinheiro é o estopim que dá início ao filme, à história e ao massacre. O filme se desenrola bem, a perseguição nos deixa tensos, o confronto entre o psicopata e o caçador é de arrepiar. Mas de repente esta situação vai se arrastando, a perseguição começa a ficar longa, não vemos no que ela pode dar, só ficamos esperando como o filme irá terminar. De repente o caçador aparece morto, o psicopata foge para fazer uma última vítima, e o xerife não consegue solucionar nada (desde o começo sabíamos que ele não estava ali para dar uma de herói).

Este final me parece sem sentido. Começo a pensar, a tentar achar algo que conecte tudo isto e faça a história ter sentido. Me lembro do título do filme, e algo se ilumina em minha mente. Talvez ele seja a chave para se compreender o que os irmãos Coen querem nos dizer. Os títulos em português e em inglês se referem a dois personagens do filme. Em inglês, No Country For Old Men, que em uma tradução livre seria algo como "Um País onde não há lugar para velhos", fala do personagem de Tommy Lee. Desde o início ele dá pistas disto, ao começar o filme com seus devaneios sobre os tempos atuais, a violência. Demonstra seu saudosismo por um tempo onde a violência não era tão cruel. Demonstra que neste país não há mais lugar para homens velhos como ele. E o final do filme fecha esta idéia. Ele acaba se aposentando, sem ter conseguido proteger ao caçador, como havia prometido a sua esposa, e sem ter conseguido pegar o assassino.

Ao mesmo tempo o título em português, Onde os Fracos não tem Vez, se refere ao próprio caçador, interpretado por Josh Brolin. Há um trecho do filme que revela isto, o diálogo entre o personagem de Woody Harrelson, quando este fala ao caçador que ele não sabe com o que está lidando, que ele não nasceu para aquilo. Bom, não me lembro das palavras exatas, mas o sentido do diálogo dos dois era mais ou menos isto. O caçador é o fraco, que de repente se vê jogado num mundo insano, cruel, e que tenta dar uma de esperto neste meio. Não há escapatória para ele, por mais que esperássemos que no final ele matasse o bandido, salvasse a mocinha e fugisse com a grana. Os irmãos Coen não estão aqui para cumprir nossas expectativas.

No mais, algumas cenas na trama são meio deslocadas, recheadas demais de metáforas, psicologismos e filosofias superficiais e incompreensíveis, pelo menos para mim, como o diálogo do xerife com o tal Allis sobre o Tio Mac, e o diálogo final a respeito do sonho, aliás, o final do filme merece um comentário a parte. Terminar o filme daquela forma pode ter sido um ato corajoso e inovador. Mas não reconheci a genialidade deste ato. A idéia do sonho em que ele vê seu pai e busca por ele, como alguém que busca por um alívio, que busca fugir da escuridão de nossa vida pode parecer legal, bonita e tudo mais. Mas para mim é uma metáfora um tanto óbvia para a vida em que vivemos. Talvez seja isto que o filme todo queira dizer. Não há como escaparmos das trevas, ela nos rodeia, nos cerca. Acho que esta é a grande mensagem de todo o filme. E apesar de parecer genial, para mim esta idéia se perde numa trama desnecessariamente longa e enfadonha. O mais legal neste final é que ele consegue passar exatamente a mesma sensação que Ed Tom descreve. "E de repente, acordei". Puf. De repente, acordamos também. Mas é só.


No final, fiquei com uma sensação de vazio. De uma ótima história, com ótimas cenas e ótimos personagens, mas desperdiçados por um roteiro desnecessariamente metafórico e recheado de diálogos aparentemente sem sentido. Enfim, após refletir sobre tudo isto, fiquei me perguntando: será que eu não entendi o filme ou será que era só isto mesmo que era para eu entender? Será que é esta a sensação que eu deveria estar sentindo após assisti-lo? Será que é esta a mensagem final do filme? O filme deixa muitas perguntas. Talvez seja assim que deva ser.

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