28 de jul. de 2010

Sobre a infidelidade...

O homem e a mulher são animais instintivamente infiéis. Esta é a maldição de nossa geração. Há várias décadas temos nos confrontado com esta verdade. Durante milênios temos tentado conciliar nossa moral monogâmica com nossos instintos poligâmicos. A prova disto? Foi só os laços morais afrouxarem um pouco para que nós criássemos novos tipos de relações, baseados unicamente no permissivismo. Basta dar uma volta por aí para ver que as pessoas hoje já não procuram um relacionamento, mas apenas se divertir, apenas "ficar" aqui e ali, sem maiores compromissos.

Mas esta transição (se é que é uma transição) não é fácil. A infidelidade sempre existiu, e não é porque as relações hoje estão tão fragmentadas em alguns casos que ela deixou de ser tabu. Não, ainda hoje este é um tema árduo, doloroso, cruel até. Principalmente quando é mostrado de forma tão crua quanto no filme Closer - Perto Demais. Trata-se de uma obra prima do cinema moderno, que trabalha de forma maravilhosa o tema relacionamentos. Um dos destaques do filme é seu roteiro, que se desenvolve basicamente através de diálogos, sempre entre 2 personagens. O espectador percebe a diferença de cara. São sempre dois personagens conversando, do início ao fim do filme, e os diálogos são ótimos, profundos, marcantes. O mais interessante deste filme é que ele incomoda, especialmente aos mais conservadores.

Para mim trata-se de um De Olhos Bem Fechados deste século. Ambos abordam a infidelidade de uma forma crua, cruel, dolorosa, e por isto mesmo, real. No final, ficamos nos perguntando se a infidelidade é algo tão horrível assim, ou se é algo natural do ser humano? Este é nosso carma, nosso drama. Desde pequenos aprendemos a reprimir nossos sentimentos, e estas obras nos mostram o quanto isto é difícil. Isto porque ninguém está livre de sentir atração por outras pessoas, mesmo comprometido. O compromisso é racional, mas o desejo, a atração não, estas coisas vêm dos sentimentos, portanto são coisas que não podemos controlar. Mas podemos ceder ou não a elas. Mas não negar que elas existam.

E é exatamente por ser um tema tão difícil que estes filmes incomodam. Eles falam de coisas que, inconscientemente sabemos ser possível de acontecer, mas que preferimos não falar. Isto porque "a verdade dói", e não queremos ouvi-la. Preferimos ficar incólumes, imaginando que tudo está lindo e perfeito, quando na verdade não está. "O que os olhos não vêm o coração não sente". Esta é nossa escolha no final. Preferimos fechar os olhos para certas coisas para não sofrermos. E este é o caso do tema em questão, do desejo que sentimos. Por tudo isto é que continuamos nos reprimindo, tentando nos adaptar a esta moral que sempre nos impuseram, tentando renegar nossos instintos em nome das regras e do bom comportamento. Como eu disse, esta parece ser nossa maior maldição.

Será a vida apenas isto? Esta sucessão de fatos, rotinas e repetições sem fim, enfadonhas, lúgubres, vazias. Estamos fadados a ver a vidas passar, telespectadores de nós mesmos? Ou será que podemos ousar, nos é permitido desejar algo mais? Amores, luxos, romances, aventuras. Muitas vezes tudo isto se resume apenas ao desejo pelas mudanças, pelo novo, pelo diferente. É isto o que nos faz sentirmos vivos, a expectativa da conquista, a esperança da mudança. É isto o que nos move, são nossos combustíveis. E não devemos jamais nos repreender por isto. Faz parte de nossa natureza, nossa natureza humana. Tanto agora quanto no século XVIII, o que buscamos é uma vida cheia de amores, ideais de vidas que nos são trazidos pelos personagens dos romances e do cinema.

Incontentes, medíocres e vazios, estes personagens se aventuram a buscar novos caminhos, novas alternativas que os tirem de sua rotina enfadonha e sem sentido, e encontram a voluptuosidade nos braços de um outro amor, secreto, clandestino, proibido. O ardor da traição lhes aviva a alma e lhes traz de volta um sentimento de vivência, antes perdido. Mas não há muito o que se desejar além disto. Os amantes só fazem sentido enquanto amantes. Qualquer pretensão de algo mais levaria a uma nova rotina, voltariam então ao mesmo ciclo, à mesma vida vazia e lúgubre de antes. O desejo do proibido, a voluptuosidade da tentação é que torna a traição especial. No fundo não há o que ser recriminado. Não há culpados nestas histórias, apenas vítimas de si mesmos. No fundo todos eles são apenas humanos, demasiado humanos.

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